Foto: Renan Mattos (Diário)
Se comparado a uma história de mais de cem anos, o que são 15 meses? Nada, em princípio. Mas esse período, que parece ínfimo, é o calvário enfrentado pelo Clube Caixeiral, uma das construções mais imponentes e emblemáticas do chamado centro histórico de Santa Maria, que se vê frente a um fechamento forçado. Na madrugada de 6 de fevereiro de 2018, parte da estrutura do teto do local ruiu.
A queda, conforme laudo conhecido ainda no ano passado, foi causada em função da madeira apodrecida por conta da infiltração de água da chuva. De lá para cá, pouco - para não dizer nada, conforme a própria direção do clube disse à reportagem - avançou. Mas os dias de indefinição, ao que tudo indica, parecem estar perto de uma solução.
Sem dinheiro para arcar com a ampla reforma do telhado, que deve chegar na casa dos R$ 500 mil, a presidência do clube aposta em uma parceria para viabilizar o conjunto de obras necessárias. A novidade, conta o presidente do Clube Caixeiral, Lauri Pötter, é a tratativa bem avançada com um empresário da noite santa-mariense. De acordo com Pötter, Nilvo José Dorneles - que já foi dono da boate Ballare - o procurou e manifestou interesse em arcar com toda a reforma do Caixeiral. Não só do telhado, mas também do restaurante.
- O clube não tem, nem de perto, como arcar com todas as obras necessárias. Há uma insuficiência financeira que é muito grande que não é de hoje e que nos engessa. Agora, ainda bem, surgiu essa proposta. É claro que ela terá de ser colocada em avaliação pelo conselho e, dando certo, vamos ver essas obras acontecendo - diz Pötter.
Reforma do telhado do Clube Caixeiral de Santa Maria fica para 2019
Nessa entrega, que nada mais é que uma concessão de uso por um determinado tempo, o empresário se propõe a custear a reforma do telhado e, ainda, trocar todo o forro do restaurante. Porém, há bem mais a ser feito, adianta Pötter. Com a queda do telhado, o palco e parte do salão - que ficam no segundo andar - terão de ser consertados. Trabalhos que ainda terão de contemplar toda a troca do piso, que hoje é de parquê, e ainda o sistema de som e a parte elétrica, lista Pötter.
Para que esse canteiro de obras (interno e externo) seja viabilizado é preciso, antes, um acordo entre a direção do clube e o empresário. A condição colocada, porém, é que ele possa utilizar a estrutura do Caixeiral e do restaurante por um período que é mantido, em reserva, entre as partes.
Agora, o conselho do clube (composto por 30 integrantes) irá analisar a proposta e submeter a proposta à análise (votação). A fragilidade econômica se traduz também no número de sócios, que são pouco mais de cem contribuintes pagantes. A manutenção mínima se dá com o aluguel de alguns imóveis, confidencia o presidente. Até antes da queda de parte do telhado, o restaurante e o salão eram locados.
O COMEÇO
A reforma mais emergencial e primeira que deve ser feita, tão logo se feche a parceria entre o clube e o empresário, é a troca de todo o telhado. O arquiteto Marcus Coden, que ficou à frente do laudo e que presta assessoria ao clube, conta que, antes, a estrutura era de madeira, e o telhado de cerâmica (telhas francesas). Agora, por questões de segurança e de praticidade, a ideia é utilizar estruturas metálicas que remetam à telha colonial.
Ainda em agosto do ano passado, o Instituto do Planejamento (Iplan) emitiu um parecer técnico de autorização para a troca de toda a estrutura da cobertura. Porém, isso não ocorreu em função de a direção do clube não ter dinheiro para contratar uma empresa para a execução dos serviços.
À época, foram contratados três orçamentos, mas não se passou disso.
DO TELHADO AO TÉRREO, O MESMO CENÁRIO DE PRECARIZAÇÃO
A reportagem percorreu, ontem, a parte interna do Clube Caixeiral. O cenário, a cada chuva, como a de ontem, agrava-se e, com isso, o risco de um comprometimento maior do telhado e de nova queda da estrutura. No salão principal, com mais de 800 metros quadrados, ainda se pode verificar as mesas, os aparelhos de ar-condicionado e o lustre, tudo exposto a céu aberto.
Uma lona que, inicialmente, tinha o propósito de dar proteção ao telhado já caiu. E, no térreo, onde funcionava o restaurante e o salão de festas, a situação é, senão pior, igual a do andar de cima.
- Sempre que chove, eu e os funcionários do clube viemos aqui para tirar um pouco da água para tentar evitar uma infiltração ainda maior - conta Lauri Pötter.
No restaurante e na cozinha, o forro do teto está comprometido e parte já caiu. Além disso, o chão também apresenta parte levantada. A estrutura da cozinha, porém, está ligeiramente melhor. Ali, há desde uma câmara fria a quatro freezeres, geladeiras e dois fogões industriais.
Também dentro da cozinha há ingredientes e engradados de bebidas que foram deixados pelos donos do restaurante. Já a cancha onde se davam as disputas de bolão é a parte menos afetada. No local, restam os quadros com os resultados das últimas disputas do esporte.
O clube, hoje, tem cinco funcionários próprios. O pagamento deles se dá, segundo o presidente, por meio do aluguel de alguns imóveis. Entre eles, está o estacionamento que fica aos fundos do clube, na Rua Alberto Pasqualini, e que rende pouco mais de R$ 7 mil por mês.
EMPRESÁRIO DA CIDADE PRETENDE INVESTIR NO CAIXEIRAL
Conhecido nome da noite santa-mariense, Nilvo José Dorneles - que já foi dono da boate Ballare e do Aldeia Bar - vê no Clube Caixeiral a oportunidade de movimentar a noite para os mais variados públicos. Desde que o teto do prédio caiu, no ano passado, ele passava em frente ao prédio e lhe vinha um questionamento, quase que intuitivo.
- Isso daqui não pode se perder, eu pensava. Alguma coisa tem que ser feita. Aí, depois, pensei: vou procurar a direção do clube. E aí estamos - conta Dorneles, que atualmente tem um restaurante no Centro e planeja abrir outro no Caixeiral.
E foi o que ele fez. O empresário diz que, da parte dele, está tudo certo. Agora, porém, falta o conselho do clube sinalizar com uma resposta para saber o que será feito do local. Na cabeça de Nilvo está tudo traçado:
- Minha ideia é manter o nome do clube e dar nomes às festas, que seriam temáticas. Aí, por exemplo, teria o dia do rock, do sertanejo... Assim, seria possível atender aos mais variados públicos. Tudo isso na sexta e aos domingos. Já no sábado, poderia ser aberto para festas de formandos, mas das turmas com poucos alunos e com preços bem acessíveis.
Dorneles explica que, tendo o sinal verde, colocará todas as obras necessárias em execução em até três meses. E ele adianta que os sócios do clube, que são pouco mais de cem, não serão deixados de lado.
- Já disse à direção do clube que eles terão todas as festas deles sem custo algum - assegura.